quinta-feira, 30 de abril de 2009

BRIAN LICHTENBERG


NICOLA FORMICHETTI


VOGUE HOMMES JAPAN



"Alice no País das Maravilhas"



"... A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas mas não posso explicar a mim mesma..."

Velvet Underground After Hours




Se você fechar a porta
A noite poderá durar pra sempre
Deixe a luz do sol se extinguir
e diga oi para o nunca

Todas as pessoas estão dançando
E se divertindo de alguma forma
Eu queria que isso pudesse acontecer comigo

Se você fechar a porta
A noite poderá durar pra sempre
Deixe o copo de vinho se esvaziar
E faça um brinde ao nunca

Oh, um dia eu sei
alguém vai olhar nos meus olhos
E dizer: olá
Você é especial pra mim

Festas em bares escuros, Cadillacs reluzentes
e as pessoas nos trens e metrôs
Trazem um olhar cinza na chuva, como se estivessem
desordenadas
oh, mas as pessoas vêem melhor no escuro

Pois se você fechar a porta
Eu poderei nunca mais ver a luz do dia de novo

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Hats off Stephen Jones



terça-feira, 28 de abril de 2009

Africa is trend





segunda-feira, 27 de abril de 2009

25/04 - Killing the Dance @ A Torre



























quinta-feira, 23 de abril de 2009

TERRY RICHARDSON







O Último Tango em Paris



"O aroma de lavanda no corredor. Lavanda e pinho. Poderia dizer que. Mais precisamente. Amadeirado, encorpado, ligeiramente austero. Terça-feira é o prenúncio, talvez a redenção. O aspirador ligado, o toque de alvorada. Novos dias, dias possíveis. Josefa chega e instaura a ordem. Os restos atravessarão compartimentos, túneis, ruas, para serem enterrados longe da vista, as sujeiras escorrerão pelo ralo. A superfície brilhará. Está tudo bem.

- Seu Carlos?

- Precisamos de um multiprocessador desses, Josefa?

- Deus me livre. Preciso de nada disso, não, senhor.

- É incrível, dá pra fazer suco de abacaxi sem tirar a casca!

- O senhor não gosta de abacaxi, não, seu Carlos.

- Talvez comece a gostar. As pessoas mudam, não mudam?

- O senhor pode assistir lá na sala? Só falta aqui e tou agoniada com o médico do menino.

Josefa remove o mofo dos rejuntes, o pó da estante, o limo da pia, mas não a craca depressiva incrustada no sofá do escritório. Olha para ela com pesar e impaciência. A craca, sabendo-se vigiada, fixa-se no canal de televendas. A faxineira, num muxoxo, lhe dá as costas e volta em seguida, nem cinco segundos, com o cano do aspirador em punho, como se apontasse um fuzil. A craca, incrédula ou suicida, zapeia e estaciona na TV Assembléia.

- Vai começar uma votação. Faça de conta que sou um ácaro gigante.

Josefa ri e logo disfarça. Dentadura imensa, branquíssima.

- O senhor tem dormido? Tá com uma cara... Os olhos fundos.

- Perda de tempo. Einstein quase não dormia.

- Tá sol, seu Carlos! Isso de ficar aqui encerrado não há de fazer bem.

- Sol dá câncer, Zefa.

- E o trabalho, seu Carlos?

- É meu ano sabático.

O telefone toca. Toca. Toca. Toca. Toca.

- Não vai atender? Esse trem tocou a manhã todinha.

- Ignora. É engano.

- E o senhor é adivinho agora, é?

- Telemarketing. Eu sei, posso pressentir pelo toque. Ó, escuta:

- Nunca vi gente que nunca atende o telefone. Parece doido.

E o telefone já não toca. Crianças gritam no pátio da escola.

- E se fosse dona Cristina?

- Minha mãe nem sabe o número. E é falta de educação ligar pra casa de alguém sem avisar.

- Deus me livre, que cabeça mais dura! E essa bagunça?!

- Deixa a mesa como tá, Zefa.

- E se fosse dona Ana?

- Não era.

- E se fosse?

- Você tem ido lá?

Ela franze a testa, resmunga, inaudível, sacode a cabeça e abandona o pano sobre a borda do balde. Liga o aspirador. Potência máxima.

- Zefa!

- Poramordejisuis, não me mete no meio disso, não, seu Carlos!

- Só perguntei se tem ido no apartamento da Ana, mulher!

- Nas quintas. Meio dia. Agora me deixa, que o menino tem médico e tou cheia de roupa pra passar.

- Ela tá bem?

- Tá meia assim, né...

- Assim como?

- Meia pra baixo, meia magra...

- E?

- Não quero rolo pro meu lado.

- Ela pergunta por mim?

- Pergunta nada, não, senhor.

- E você tem visto alguém estranho por lá?

- Assim o senhor me complica, seu Carlos. Chispa pra sala, poramordejisuis.

- Então viu!

- Vi nada.

- Viu, sim, te conheço.

- ...

- Zefa!

- O senhor tá impossível! Vai pra praia, seu Carlos, me deixa trabalhar!

- Prefiro a tua companhia.

*

Já passava das duas, os telefones tocavam. E deixávamos que tocassem, deitados lado a lado, ao alcance dos dedos, da próxima onda. Ana ficou calada de repente. Senti que tinha algo a dizer. Algo que eu não gostaria de ouvir. Perguntei, vago e imediatamente arrependido. Eu não entendo como você consegue gozar em silêncio, ela disse, depois de longa pausa, olhando pro teto. Talvez esperasse que eu pudesse mesmo lhe explicar. Ana sempre esperava por explicações que não podia lhe dar. Não conseguia. Acho triste, arrematou, como que pra me punir pela ausência de resposta. E eu persisti numa mudez débil enquanto tentava pegar sua mão. Estava fria e rígida. Ana estava morrendo ao meu lado."
**


Trecho de um conto que fala de certo casal que divide a mesma faxineira depois da separação.
Entre outras coisas.
Ele fará parte de uma coletânea que...
O resto é segredo

Space Age